Saturday, November 06, 2010

Eu pergunto (volume II)

Quando o guerreiro que descansa, de onde vem a sabedoria que o faz ficar quieto?
Se a única coisa que o marinheiro sabe fazer é navegar, o que ele faz quando volta pra terra?

Thursday, November 04, 2010

Eu pergunto (volume I)

Remar era mesmo pra cansar tanto?
E há algo mais justo do que eu esperar um pouco por uma brisa? 
E será que a brisa tem que demorar tanto assim?

Monday, November 01, 2010

Tô voltando. Eu acho.

Friday, January 29, 2010

Sem muita curiosidade, sem esperar , sem muita conversa.
Sem tempo a perder, sem raízes fincadas, sem satisfação a dar.
Sem procurar, sem olhar para os lados.
Sem lamentações, sem frescura, sem luxo.
Sem registros. Sem fotos, sem rastro.

O passado vai ficando esfumaçado, sem importância, sem força.
A memória vai ficando ruim. E o medo vai sumindo.
Isso é a limpeza.

Saturday, May 09, 2009

Uma breve introdução às 5 leis da selva

Estou pedalando feito um doido. A trilha tem um metro de largura, mas eu sei que vai estreitar mais à frente. É plano, mas com pedras perigosas cobertas de poeira. Tem areia fofa parecida com areia de praia em alguns lugares. Eu passo devagar pela areia fofa e depois tenho que investir mais energia pra reacelerar. Juazeiros à beira da trilha arranham meus braços e pernas. Minha perna direita está toda cortada, mas o medo mesmo é furar um pneu com um espinho desses.


Escuto o som dos pneus muito cheios deslizando sobre a trilha. É um som seco, constante. Na verdade eu me sinto tenso com ele. É irritante. Me sinto perseguido por ele. É a mesma sensação de caminhar sozinho numa rua escura e ouvir passos atrás de você. Tensão. Ao mesmo tempo sinto que esse barulho minha única companhia nesse momento.


Também escuto minha respiração. Eu respiro e sinto a baforada quente incomodar meu rosto. A garganta está seca e parece que eu engoli cimento. Minha pele – ah, a minha pele – arde. Sinto cheiro da paisagem seca. Cheiro quente, cheiro da poeira, cheiro da falta de vida ao meu redor. No sertão, só o lamento, o xique-xique, o pé de juá, o matuto forte e o ciclista teimoso sobrevivem.


Sinto o gosto da areia nos meus lábios. Sinto mais ainda esse gosto quando uma gota salgada de suor traz essa areia pra minha boca. O suor escorre e parece que está fervendo. Uma gota cai no meu olho de vez em quando. Os óculos escuros estão molhados. Calor horrível. A água acabou faz tempo, é claro. A única água que vi nos últimos 17 quilômetros foi de um açude que estava quase seco. Água imunda. A vaquinha que estava tomando banho lá estava muito melhor que eu.


Lá está uma casa. Não me animo muito. Quase nunca tem alguém nessas casinhas escondidas por trás da serra. Reduzo a velocidade até parar. Piso no chão e acho estranho: a sola dos meus pés parecem muito quentes e me sinto desequilibrado. Marujo depois de meses no mar desequilibra e enjoa na terra. Bato palmas. Uma criança vem e peço água. Ela traz uma jarra d’água surpreendentemente gelada – incrível, mas chega energia elétrica ali! Enche minha garrafa e eu agradeço. Ainda penso em olhar para a água para saber se é muito suja, mas resisto – a sede é grande e não quero constranger meu simpático novo amigo.


Não bebo a água na hora – estava gelada demais. Coloco a garrafa na bicicleta e volto ao meu rumo. Com aquele calor ela esquentou um pouco em pouco tempo. Reduzo um pouco a velocidade e solto as mãos do guidão. Pego a garrafa e enfio água goela abaixo, não sem antes lavar meus lábios cheios de areia – satisfaço a velha carcaça que sofre na bicicleta. Olho pro céu. Completamente limpo. Céu de brigadeiro, como dizem os pilotos. Será que brigadeiros gostam daquela claridade e calor? Se sim, caso forem pro inferno só vão estranhar a comida. A água desce e minha garganta agradece. A trilha fica limpa, lisa feito asfalto e a bicicleta desliza nela. Limpa está minha garganta e a água desliza nela. Limpo está o céu e aquele urubu desliza nele. Limpa está minha alma. Preparada pra que eu deslize nela.

Todo esporte dói. Todo esporte machuca. E olha que o ciclismo é um dos que menos machuca. Uma dúzia de vezes eu me peguei pensando nas razões de eu me expor a isso. Muito tempo depois eu pude perceber que não há razão nisso. Não há um fim. Não há objetivo. Mesmo que houvesse, ele seria incapturável e indescritível. Qualquer tentativa de explicar esses comportamentos primitivos seria uma perda de tempo e uma falta de respeito para com o homem, pois só depois de muito tempo eu percebi que há uma dimensão diferente que eu não conhecia na vontade do homem. Essa dimensão não deve ser questionada ou mensurada, não deve ser tocada nem alterada. Ela é, portanto, sagrada. É o conhecimento claro e simples de que um homem tem que fazer o que ele tem que fazer.

Saturday, April 11, 2009

Só para vocês lembrarem:

A luta

Não pode haver luta limpa.
Onde há “limpeza” não há luta.
Não pode haver iguais.
Onde há iguais não há luta.

Não há luta suja.
Não há lutadores sujos.
Não há sujeira nas armas –
Pelo menos até a luta começar...

O sangue movido com medo por um coração covarde
Ou já morto na ponta da baioneta do forte,
Que fica na grama dos campos verdes
Ou no deserto de veias duras: o sangue do fraco.

O sangue ardente que corre nas veias ou no campo de batalha
Empurrado com vigor pelo coração, tão vermelho, tão vivo,
Tão desejoso e ardente por vida e luta.
O sangue mais vermelho: o sangue do forte.

No sangue forte só há luta e vontade.
Vontade de mais vontade.
E não há finalidade na vontade.
Ela é o começo o meio e o fim.

Fim este que não existe –
A vontade sempre retorna,
A luta sempre retorna
E torna o forte mais forte.

O sangue dos vivos quer que o sino os alerte
Para a batalha da vida e nesta vida!
O sangue dos mortos quer descansar em paz
Neste mundo ou em outro que nunca viram.

Os de sangue quente querem todas as badaladas,
Todos os acordes, todos os sons e prestíssimos!
Os de sangue morto querem que o sino apenas os avise
Que o tempo passou, que a vida passa e que a morte se aproxima.

A luta – esta que nunca pára –
É desejada pelo forte e renegada pelo fraco.
A luta – esta que não teve começo –
Separa os de sangue vivo dos de sangue de areia.

E a luta é a própria vida lutando para viver,
Para separar,
Para definir
E para celebrar a vida.

Friday, October 24, 2008

Sobre o medo (parte 1, volume 2)

Eu vejo tanto sangue penetrando
Na terra quente.
Sangue que escorre do martelo pesado
Do homem de guerra.

E esse sangue da batalha –
Maldito na terra, bendito na veia,
Maldito na dor, bendito na vida –
É o suor da guerra.

Eu vejo sangue escorrendo
Ao longo dessa estrada.
E ele borbulha no calor do asfalto.

E para esse homem de guerra
Não há medo de ver o sangue ferver na terra quente.
Nesse homem de batalha o sangue ferve ainda nas veias.

Monday, September 08, 2008

Sobre a memória (parte 1, volume 2)

Essas muitas opções que tiram o sono de muitos
Me trazem alegrias e sabores que duram breves períodos.
Sim, breves, pois logo provo outro sabor que confunde o primeiro
E me traz a inocência da dúvida.

E me é saudável oferecer várias opções ao meu corpo
Na medida em que a dúvida coloca em cheque a certeza da memória
E me leva ao exercício de uma vontade.

Monday, September 01, 2008

Talento é como cueca

Alguns têm e usam sempre.
Alguns têm e usam às vezes.
Alguns têm e preferem não usar.
E alguns não têm.

Monday, July 14, 2008

A coisa mais gestáltica q eu já li:

A qualidade da nossa percepção determina a qualidade do nosso julgamento.
A qualidade do nosso julgamento determina como nós interagimos com o mundo.
O modo como interagimos com o mundo muda o mundo.
Logo, a qualidade da nossa percepção muda o mundo.

Robert Fripp